Escrever
Posted by Claudia in Uncategorized on December 30, 2014
Tenho muita vergonha de tudo que escrevo aqui no blog. Mesmo o que escrevi lá atrás eu não releio. Logo, a chance de daqui a um tempo isso não ser relido é grande. Invejo a escrita que sobrevive ao tempo. Que passa por mim em algum instante e, quando repassa, eu ainda a sinto e penso, saco, isso me diz algo. De alguma forma, atesta que eu sigo aqui. E que tem gente que seguiu (e muito bem) antes. [humm, ter alguém assim não é pedir muito, é? hahaha]
….
Tá bom, quero alguns homens e paisagens assim. Não quero escolher um ou o mundo. Quero um e o mundo. Uns e uns mundos. I-mundos. Sim, as coisas feias, também. E os “não”. Nões. Prósperos, pra além de hoje.
[correndo pra não dizer muito e querer apagar mais]
…
É o espetáculo do mundo que nos invade e deslumbra. Nas horas vagas.
é de ladinho que eu lhe acho
Posted by Claudia in Uncategorized on December 30, 2014
“Era o homem mais alto que se podia imaginar, com uma cara de moleque sapeca dentro de um interminável sobretudo preto que mais parecia a sotaina de um viúvo, e tinha os olhos muito separados, como os de um bezerro, e tão oblíquos e diáfanos que poderiam ser os do diabo se não estivessem submetidos ao domínio do coração.” – García Márquez, sobre Julio Cortázar.
em:
‘… de qué sirve escribir midiendo cada frase,’
Le mots
Posted by Claudia in Uncategorized on December 30, 2014
Só esse espelho crítico lhe oferece a própria imagem. De resto, esse velho edifício ruinoso, minha impostura, é também meu caráter: a gente se desfaz de uma neurose, mas não se cura de si próprio. Gastos, obliterados, humilhados, encantoados, passados em silêncio, todos os traços da criança remanescem no quinquagenário. A maior parte do tempo se acaçapam na sombra, espreitam: ao primeiro instante de inadvertência, reerguem a cabeça e penetram em pleno dia sob um disfarce. (J-P. Sartre, Le mots)
O amor é um cão dos diabos
Posted by Claudia in Uncategorized on July 21, 2014
“Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos.” (Freud)
e
AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
da dona Adélia Prado
Sobre destroços
Posted by Claudia in Uncategorized on July 10, 2014
Varsóvia, 1946. Por Michael Nash.
[Você transforma o horror. Tem que transformar. – Waly Salomão ]
Christian Larsen
Posted by Claudia in Uncategorized on July 7, 2014
tem, tem de guardar, sim
Verdade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)
Man Ray
Posted by Claudia in Uncategorized on July 7, 2014
Ana
Posted by Claudia in Uncategorized on July 7, 2014
Amigas
Posted by Claudia in Uncategorized on October 2, 2011
Quero falar sobre as mulheres. Não de todas, mas de algumas que tenho escutado com certa frequência e com as quais compartilho muitas coisas.
É muito impressionante a quantidade de amigas que eu escuto se questionando se estão no caminho “certo” sobre o ser mulher. Amigas já maduras (até pelo tipo de questionamento) que deram um passo além, que estão longe de um clichê de feminilidade e que não precisam demonstrá-la mantendo uma constante de vestimentas ditas femininas ou interesses e comportamentos considerados como tais. Essas mulheres apresentam, da mesma forma, fragilidade, porque isso não é privilégio de algum gênero. No entanto, parece que quando não relacionada a certos modelos, a fragilidade – que fica, então, associada à feminilidade – não é tolerada por alguns homens.
Enfim, esse texto é só um desabafo de carinho pra essas minhas amigas que em algum momento perdem a fé no seu próprio trajeto. E pra dizer que uma relação pode não ser uma competição. O vínculo vem quando você confia, sem medo, a sua falta ao outro, e você tampouco recebe a do seu companheiro como ameaça, mas como confiança. Quando o outro deixa de ser o culpado por aquilo que você não tem, mas o confidente daquilo que lhe falta. Quando você pode respirar aliviada por sentir o amor como alguma forma de suplência às loucuras do dia a dia.
Não percam a fé de serem especiais na sua singularidade. Amor vem de amor – e se amamos, é porque há algo de amável em nós.
Me diz o que você achou?
Posted by Claudia in Uncategorized on August 18, 2011
Vocês se lembram do mito de Orfeu e Eurídice? Bem resumidamente: eles se casam, Eurídice morre após uma perseguição. Orfeu, desesperado, decide descer ao mundo dos mortos para vê-la, vale-se de sua lira para lá entrar, faz um belo discurso e consegue uma chance de trazê-la dos infernos. Permitem, inusualmente, que ele a traga de volta, com uma condição: ele não podia se virar pra olhar pra ela antes que chegassem à superfície. E assim vão, Orfeu segue andando na frente, Eurídice atrás, ambos a caminho do mundo dos vivos. Mas eis que, depois de muito andar, já quase sob a luz do sol, Orfeu se vira pra dar aquela olhadinha e conferir se Eurídice está ali mesmo e… pluft! : ela começa a ser arrebatada num turbilhão, eles estendem os braços tentando um último abraço, mas só ar é o que retêm. Ele a perde para sempre.
A história do músico trácio (que não termina onde eu parei) é usada como analogia para muitas categorias, depende do interesse. Colocam-no como filósofo em busca de conhecimento, músico que personifica a música e o ritmo das coisas, vidente fundador de ritos dionisíacos, astrólogo e até missionário em terras bárbaras, com uma, digamos, função civilizatória. O momento em que tudo vai pelos ares, no entanto, é o que me chama a atenção. A hora em que Orfeu se vira para, discretamente, conferir que Eurídice estivesse ali – e nisso tudo se perde.
Cogito, ergo sum. A dúvida é meu tema aqui. Nesse mito, quando Orfeu se vira pra dizer “você está aí, ‘né’?”, é nesse ‘né’ que ele perde Eurídice. O problema não é a dúvida – impossível avançar sem ela. O problema é a busca da confirmação autorizante do pensar para poder prosseguir, confirmação que, na sua ausência, deixa paralisado. Esse “né” seria a busca da segurança, um ‘olha, eu não estou sozinho, estou?’, literalmente. É muito difícil assumir que, em última instância, nada é sem risco. Estamos apresentando sem ensaio, desenhando sem esboço, como naquele trecho do começo d’ A insustentável leveza do ser.
De Descartes a Lacan. A cena do questionamento de Orfeu trouxe-me ainda outra imagem: a do analisando no divã, buscando a confirmação do analista para os seus cogitos. No silêncio do analista, que muita gente que já viu algum filme do Woody Allen diz ser o silêncio mais bem pago do universo, reside justamente a angústia de não obter uma confirmação, de não ter um “curtir” pro post colocado. É o silêncio que, de certa forma, lhe diz, olha, talvez agora você esteja sozinho, sim. E é assim que você vai se ligar aos outros. Se interessar.